domingo, 23 de fevereiro de 2014

Papa Francisco

Papa Francisco e suas entrevistas: são tantas emoções!

As matérias que vimos na mídia vieram de uma entrevista que Francisco concedeu a revista jesuíta “Civiltà Cattolica”, na qual fala de muitas coisas interessantes. Entre elas, o trecho a seguir:
Devemos anunciar o Evangelho em todos os caminhos, pregando a boa nova do Reino e curando, também com a nossa pregação, todo o tipo de doença e de ferida. Em Buenos Aires recebia cartas de pessoas homossexuais, que são “feridos sociais”, porque me dizem que sentem como a Igreja sempre os condenou. Mas a Igreja não quer fazer isto. Durante o voo de regresso do Rio de Janeiro disse que se uma pessoa homossexual é de boa vontade e está à procura de Deus, eu não sou ninguém para julgá-la. Dizendo isso, eu disse aquilo que diz o Catecismo. A religião tem o direito de exprimir a própria opinião para serviço das pessoas, mas Deus, na criação, tornou-nos livres: a ingerência espiritual na vida pessoal não é possível. Uma vez uma pessoa, de modo provocatório, perguntou-me se aprovava a homossexualidade. Eu, então, respondi-lhe com uma outra pergunta: “Diz-me: Deus, quando olha para uma pessoa homossexual, aprova a sua existência com afecto ou rejeita-a, condenando-a?” É necessário sempre considerar a pessoa. Aqui entramos no mistério do homem. Na vida, Deus acompanha as pessoas e nós devemos acompanhá-las a partir da sua condição. É preciso acompanhar com misericórdia. Quando isto acontece, o Espírito Santo inspira o sacerdote a dizer a coisa mais apropriada.
Esta é também a grandeza da confissão: o facto de avaliar caso a caso e de poder discernir qual é a melhor coisa a fazer por uma pessoa que procura Deus e a sua graça. O confessionário não é uma sala de tortura, mas lugar de misericórdia, no qual o Senhor nos estimula a fazer o melhor que pudermos. Penso também na situação de uma mulher que carregou consigo um matrimónio fracassado, no qual chegou a abortar. Depois esta mulher voltou a casar e agora está serena, com cinco filhos. O aborto pesa-lhe muito e está sinceramente arrependida. Gostaria de avançar na vida cristã. O que faz o confessor?
Não podemos insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso dos métodos contraceptivos. Isto não é possível. Eu não falei muito destas coisas e censuraram-me por isso. Mas quando se fala disto, é necessário falar num contexto. De resto, o parecer da Igreja é conhecido e eu sou filho da Igreja, mas não é necessário falar disso continuamente.
Os ensinamentos, tanto dogmáticos como morais, não são todos equivalentes. Uma pastoral missionária não está obcecada pela transmissão desarticulada de uma multiplicidade de doutrinas a impor insistentemente. O anúncio de carácter missionário concentra-se no essencial, no necessário, que é também aquilo que mais apaixona e atrai, aquilo que faz arder o coração, como aos discípulos de Emaús. Devemos, pois, encontrar um novo equilíbrio; de outro modo, mesmo o edifício moral da Igreja corre o risco de cair como um castelo de cartas, de perder a frescura e o perfume do Evangelho. A proposta evangélica deve ser mais simples, profunda, irradiante. É desta proposta que vêm depois as consequências morais”.
Marquei as partes “bombásticas” em vermelho.  Este trecho pertence a uma seção da entrevista chamada “Igreja, hospital de campanha?”. Francisco fala sobre atuação pastoral, com foco na misericórdia e ajuda aos mais necessitados.  É uma reflexão belíssima sobre o valor do acolhimento e de como a confissão, se tratada com seriedade, com interesse pela pessoa, pode tocar e mudar mais do que a simples militância anti-aborto, anti-casamento homoafetivo etc.
O que o Papa quis dizer é que precisamos entender o que é o CENTRO DA MENSAGEM EVANGÉLICA: é crer que Jesus Cristo é Deus, que Ele vive, que nos ama e nos salva.
Mas se alguém não entende porque vale a pena aderir com todas as forças à grande História da Salvação, porque vai entender qualquer outra coisa? Aliás, fora do anúncio da Salvação, a doutrina vira um conjunto de regras sem razão de existir. Aí, como o próprio Papa diz, o “edifício moral da Igreja corre o risco de cair como um castelo de cartas”.
Sem querer tirar onda (mas já tirando), o que o Papa disse nessa entrevista nós já dissemos há meses aqui no blog, com outras palavras, em dois posts.
  • Em “Meus crismandos são todos ateus” nós falamos sobre a dinâmica mais adequada para a catequese: começa-se pelo Kerigma (que é como a Igreja chama o anúncio da Salvação), para só depois se discutir doutrina.
  • Em “Um santo triste é um triste santo” apresentamos um texto do Pe. Luigi Giussani que alerta justamente sobre o perigo de reduzir o cristianismo a um código de conduta moral.
A prova de que o Papa não relativizou em nada a moral católica é que ele condena os dois extremos: o confessor rígido demais e o confessor “laxista”, ou seja, aquele “lava as mãos dizendo simplesmente ‘isto não é pecado’ ou coisas semelhantes”.
Fiquem todos tranquilos.  Deus sabe muito bem o Papa que nos colocou neste momento, pra suceder o grandioso Bento XVI. Recomendo fortemente a leitura da íntegra da entrevista (veja aqui), que contém direcionamentos pastorais preciosíssimos, que precisamos realmente aprender a seguir
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